Tenho 25 anos quando escrevo isso. Vivi metade de uma década. Nessa exata idade, minha mãe já tinha dois filhos. Meu irmão com 7 e eu com 5. A cada dia que passa, fico mais perto dos 30 do que dos 15. E isso nada tem a ver com a epidemia de obsessão com a beleza da juventude. O veneno vertiginoso chamado inveja, que corre debaixo da minha língua em relação à juventude, é a sensação de que não tenho mais tanto tempo quanto tinha aos 15. É isso o que me faz falta. Sinto que sou eu um grãozinho dentro da ampulheta, escorregando por um espaço cada vez mais fino, que me fará prender a respiração em algum momento, até cair do outro lado e ser esquecida para sempre.
As possibilidades se tornam cometas cada vez mais distantes no meu céu. Sinto falta da gana de ver um mundo de obstáculos e sentir, pelo arrepio dos meus braços, que teria coragem para enfrentar todos eles pelo que quero. Sinto que sabia muito mais sobre a vida aos 17 do que sei aos 25. É engraçado como, às vezes, a foice do medo de se tornar o que você mais teme te alcança, mesmo que você tente se arrastar para o mais longe possível dela.
Sempre tive medo de me tornar o tipo de pessoa que duvida de tudo e deixa de viver por medo. E foi exatamente isso que me tornei. Tenho coragem de fazer tudo, menos o que realmente importa para mim. Passei anos reclamando sobre a falta de oportunidades que me obrigaram a deixar meus sonhos para depois em troca da sobrevivência. Lambi essas feridas com gosto por seis anos. E quando uma nova oportunidade bateu à minha porta, na minha cidade, gratuitamente, me faltou coragem. Não é patético? Eu já fiz coisas tão mais difíceis, em situações que não me despertavam a mínima emoção. E fui incapaz de fazer o mesmo pelo que eu mais queria. Eu sei que o progresso não é linear e cada um tem seu tempo. Mas eu treinei e imaginei por tanto tempo. Fiz coisas semelhantes por tanto tempo. Por que dessa vez não? Por que eu escolho dormir cedo nas noites de cometa?
Ano que vem, faço 26. As possibilidades se afunilam cada vez mais. Temo que fique sempre esperando o próximo ônibus e todos eles já tenham passado. Por mais que eu seja feliz com minha vida atual e esteja vivendo a maior parte do que eu imaginava há 10 anos, ainda quero tanta coisa que parece tão distante. Com cada vez menos chances de acontecer. Tenho tanto medo de ter desperdiçado todas os meus cometas. Ano que vem, faço 26. Tento me orgulhar de quem eu sou e me perdoar pelas escolhas que fiz (ou deixei de fazer). No fundo, eu sei que a minha versão de 15 anos estaria orgulhosa. É por ela que continuo tentando. Embora não seja muito, espero que um dia seja o suficiente.
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