aquele com a doida do apartamento ao lado



Eu não moro em apartamento. Também não tenho gatos. Nem um mapa estelar com atalhos de buracos negros. Mas queria. Eu sou a Summer, mas às vezes troco meu nome aqui pra "kitty". Porque eu tenho uma certa inconstância. Acho que quem me conhece daqui a mais tempo sabe, porque eu já tive vários blogues. Entretanto, sempre morei na mesma casa a vida toda. Ela é amarela e fica no topo de uma rua que parece saída do livro do Heathcliff. De algum jeito, é uma casa diferente a cada dia. A gente pode sair para tomar um café e quando voltar, os móveis estarem todos em lugares diferentes - meus mindinhos detestam -, de cores diferentes, ou, simplesmente, pode ter uma parede demolida no meio da sala, na hora do almoço. Nunca se sabe. 

Acho que tive a quem puxar. Eu digo "doida do apartamento" porque você sabe de quem estou falando. Todos os prédios tem pelo menos uma: aquela pessoa curiosa - para não dizer estranha - e imprevisível - para não dizer extraditada de outro planeta - que pode morar no fim do corredor, no andar de baixo ou - deus me livre - bem do seu lado. Ela pode ter um jeito de se vestir caótico, e o lado de dentro do seu apartamento é mais caótico ainda. Ela pode viver esbarrando nas coisas e sempre parecer que tem visitas em casa, porque está sempre falando, embora a voz das outras pessoas nunca atrevessem as paredes. Ela também pode bater na porta do seu apartamento pedindo por uma tesoura, porque acaba de perder a dela, ou pode bater pra pegar a chave reserva, que ela deixou com você, já que perdeu a original muitas vezes. E acabou de perder de novo. Ela pode começar com as cantorias na janela logo de manhã ou pode ficar correndo como um camundongo de madrugada até a geladeira, fazendo uma barulheira no seu teto, mesmo que more sozinha e não precise pegar nada escondido. Ela também pode começar a falar coisas do nada, dentro do elevador, ou parar do nada, sem fazer a mínima ideia do que estava dizendo. Parece mudar de cabelo a cada semana, mas sempre usa os mesmos colares. Se enturma com as crianças do prédio e normalmente tem pirulitos que parecem infinitos dentro dos bolsos. Pode ser irritante, mas é inofensiva. 

Essa doida, em específico, assiste mais pilotos das séries do que o resto dos episódios em si. Adora filmes, mas às vezes tem preguiça de assisti-los (por não conseguir ficar parada tanto tempo). Sabe cozinhar, mas apenas doces. Ama contos de fadas (em especial Peter Pan) mas não consegue, nem por reza braba, terminar o exemplar do garoto que não cresce que ganhou. Ela justifica isso dizendo que, se terminar, parece que a história vai ter um fim, como se estivesse acabado pra sempre. Adora fazer certas coisas que tem a ver com arte, mas morre de medo de mostrar - principalmente pras pessoas que gosta - porque diz que essas coisas são seu gato de schrodinger (o único gato que realmente possui) e que, se mostrar e ninguém gostar, vai ser horrível, mas se nunca mostrar, sempre vai haver a possibilidade de o gato estar vivo.

7250 dias vividos atualmente, mas ainda nenhuma aurora boreal nem porcos voadores ou vacas com resfriado avistados. 

Deixando esse espaço para quando eu tiver coragem de mostrar as tais coisas artísticas aqui. Pode demorar, então pega um toddynho e explora por aí, enquanto isso.


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