Existem pessoas que escrevem aquilo que gostariam de viver. Eu escrevo sobre as pessoas que gostaria de conhecer. De certo modo, talvez isso seja um presságio de ruína.
Não me lembro quem disse, mas uma vez eu li sobre como nossos personagens, por mais desprezíveis e e desonestos que sejam, sempre tem um pouquinho da gente. Quer tenhamos consciência disso, quer não. Aposto que Freud teria alguma teoria sobre como o jeito que eu componho meus personagens para sempre serem remediáveis, na verdade tem muito a ver com a minha crença interna de que sou sempre, eu mesma, remediável. Mas ele não está aqui. E acho justo dizer que tenho uma birra dele desde que, com 12 anos, eu li que ele achava que os defeitos que nos irritavam nas pessoas, na verdade eram os defeitos que reconhecíamos na gente também.
Eu sempre gosto dos personagens que crio. Me imagino tomando café ou fazendo caminhadas pelos bairros mais confusos da minha cidade com todos eles. Até quando me irritam. Até quando simplesmente não consigo escrevê-los. Sempre crio pessoas pelas quais eu me apaixonaria, não necessariamente no sentido romântico. Mas pessoas que me encantariam, sabe? Pessoas para as quais eu daria longas olhadas na rua. Às vezes pelo andar engraçado ou pelo estilo de se vestir, até pela postura. Dou-lhes manias que gosto nos meus amigos, as que minha prima puxou da mãe, as que odeio no meu irmão, e manias que nunca vi na vida.
Mas, por mais que não goste de uma ou outra característica deles, no grande plano das coisas, eu acabo sempre os adorando. Eles são sempre remediáveis, mesmo cometendo erro e estapafúrdia atrás de erro e estapafúrdia. Talvez isso tenha sido um erro.