segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

aquele com a música do túnel pt.1




Olá. Podemos dizer que esse é o primeiro post real do ano. Então vamos lá. Todos acomodados e confortáveis? Ah, sim: como vocês estão hoje? Aqui, de onde estou escrevendo, é domingo e um dia maravilhoso e acabei de assistir Juntos e Misturados, mais um filme do Adam Sandler. Porque tá, você pode dizer que os personagens do Adam são parecidos? Até pode. Pode dizer que a estrutura dos filmes é parecida? Pode também. Mas você por acaso consegue assistir um filme dele todinho sem dar uma risadinha que seja? Eu acho que não. É por isso que eu adoro o cara. (Fora que se a estrutura do filme é usada muitas vezes, é porque sempre dá certo. Mas enfim) Olhando assim o post parece até que é sobre filmes, mas vamos deixar a sétima arte pra outro dia porque o que eu estou com tesão mesmo de falar hoje sobre é livros. Um, mais especificamente. Por isso peguem seus toddynhos e respirem fundo, vamos entrar em um túnel.

Agora vocês me perguntam: tá, e o que seria a música do túnel? Vamos chegar lá, pequeno gafanhoto. Primeiro vamos pra hora da história: Em 2015, aconteceu a bienal do livro no Rio. Esse foi um dos piores anos da minha vida. Eu não vou me prolongar muito nisso porque estou sem condições psicológicas de entrar nesse assunto e ficar na merda agora, porque estou realmente muito animada pra postar, mas enfim. Era um dos piores anos e teve esse concurso na minha escola pra escrever uma redação sobre a importância da leitura. As dez melhores ganhavam um lugar no ônibus. Eu ganhei e (um dia eu tenho que contar sobre toda a experiência da Bienal, porque foi notável, mas deixo isso pra outro dia) comprei o livro Quem é você, Alaska? e, sem querer parecer pretensiosa, mas esse livro mudou minha vida.

Eu fiquei enrolando pra lê-lo, ao longo do mês de setembro inteiro, por causa daquelas marcações de dias. Desde o primeiro momento, somos jogados no meio da história, sabendo que algo vai acontecer. Algo tão grande, mas tão grande, que separa completamente a história em um "antes" e um "depois". A gente sabe que algo vai acontecer, ao contrário dos personagens, mesmo sem saber exatamente o quê.

Desde o primeiro capítulo, eu me reconheci no Miles. Não me identifiquei. Eu me r e c o n h e c i nele. O conhecimento agonizante de que a vida está simplesmente passando e nada de interessante nunca acontece. Parafraseando Clube da Luta, "cada dia é a cópia da cópia da cópia" de outro dia. É tipo estar preso dentro de um cubo de gelo: você vê tudo acontecendo, mas não consegue se mexer ou fazer qualquer outra coisa que não seja observar. Logo no começo somos apresentados a uma das frases mais emblemáticas do livro, a que praticamente leva o Miles a fazer tudo que faz: "Saio em busca de um grande talvez".

E essa frase meio que acendeu alguma coisa em mim. Não foi tipo "uAU agora eu rEALMENTE quero viver" mas foi um começo, sabe? Continuando. O lance é que o Miles passa a fazer disso seu lema, e o fato de ele se mudar para um colégio interno é apenas o começo de um efeito borboleta imenso. Lá, ele conhece o Coronel, o Takumi e a Alaska, que são pessoas como a que ele queria ser. Eles são incrivelmente inteligentes e, assim como ele, se perguntam sobre coisas que a maioria das pessoas ao redor parecem não perceber. Eles tem os típicos problemas de adolescentes, tipo problemas com os pais, namoradas, tentando entender quem eles são e tudo mais. Mas isso nunca é falado de um jeito piegas e auto-ajuda, sabe? Não é aquela coisa "Moral da história", o livro não tenta te ensinar a como você deve agir nem te dá as respostas para as crises existenciais. Pelo contrário. Eu acho que uma das coisas mais legais dele é justamente fazer você se perguntar sobre essas coisas. As coisas que as pessoas - principalmente adultos - ignoram.

Adultos sempre olham pros adolescentes com condescência, de um jeito "já passei por isso/ por coisa bem pior, você não viu nada, criança", sempre os colocam como inferiores, como se não tivessem capacidade pra entender das coisas e só pensassem asneiras o tempo todo. Como se as coisas realmente importantes da vida fossem um trabalho estável, conta de luz, essas coisas. Coisas tipo "qual o sentido da religião/destino vs. acaso/ por que o sofrimento existe" entram no pacote das asneiras. Nem a tristeza é levada em consideração, porque nada do que a gente passe vai ser comparado ao que eles já passaram. E isso é tão hipócrita e irritante. Somos sempre a geração mais fraca, porque eles passaram por isso e aquilo, etc. Não tô dizendo que o que eles passaram não é tão ruim assim. Mas não é uma competição de sofrimento, sabe? Não é como se existisse um consenso mundial do que é "sofrimento de verdade" ou não. Todo sofrimento é válido porque pessoas são indivíduos diferentes e se afetam com certas coisas de forma diferente.

E eu realmente queria que os adultos de hoje entendessem isso.

Mas prosseguindo, eu acho esse livro muito genuíno e natural. Nada é forçado ou empurrado garganta abaixo. Eu vou devanear bastante aqui, mas sabem como os adultos dizem que crianças tem a irritante mania de querer saber o por quê de tudo? Eu acho que a história também é sobre isso. O Miles atravessa o país procurando por respostas, afinal de contas. Ele quer a confirmação de algo que leu na biografia de um autor, e torce com todo o coração para que seja verdade. Ele se agarra a essa frase e ela é sua única esperança. Eu espero que não esteja girando em círculos e tornando esse post inteiro uma falácia, mas esse livro me deixa muito empolgada. E eu queria dizer tudo o que ele me faz sentir, porque queria que todas as pessoas pudessem ter essa sensação. No fim das contas, sabem o que eu sinto todas as vezes que o leio? em todas as, sei lá, 80 vezes Faíscas. Esse livro me faz sentir faíscas. Como um formigamento que começa no centro e arrepia da minha nuca até minha cintura, percorre minhas bochechas e eu sorrio. Eu sempre sorrio. É um quentinho no coração. Esse livro faz eu sentir que a pessoa que eu sou e as coisas que eu penso são válidas. E reais. É tipo ver um unicórnio você mesmo. Você sempre soube no fundo da sua alma que eles existiam, mas sabe, é uma coisa boa saber que está certo e que as outras pessoas que te achavam louco? Eles estavam erradas.

Ademais isso, os personagens são cativantes e cada um tem suas esquisitices absolutamente encantadoras. Você fica submerso na história e no fim de tudo é quase difícil separar a ficção da realidade. Porque parece que você está lá com eles, perto do lago, atirando pedrinhas na água ou balançando no balanço e rindo  alto demais. Vai parecer que você está lá, vivendo tudo aquilo com eles. No fim de tudo, você vai querer que tudo aquilo tivesse acontecido. E que eles fossem seus melhores amigos.

Quem é você, Alaska? é aquele tipo de livro cujos personagens saem do livro como que por mágica, ou eles te puxam pra dentro dele. Difícil dizer. Mas você quer guardar todos eles no coração e reler sempre que puder, porque mesmo relendo diversas vezes - ou até justamente por isso - a sensação continua a mesma. A faísca continua lá, se alastrando por toda parte.

Se esse livro me deu a certeza de alguma coisa, dentre as várias, foi isso: é melhor queimar do que desvanecer lentamente.

Eu ainda estou me acostumando a recomendar livros, não foi nada muito técnico, eu sei. Acho que eu não saberia lê-lo olhando somente o lado técnico. Acho que foi mais um post sobre em que o livro me afetou  do que sobre ele em si. Mas espero que vocês tenham gostado e que tenha acendido uma vontade de lê-lo, se ainda não leram. Obrigada por chegarem até aqui.

Um beijo, um cheiro, bebam água e
até mais

3 comentários:

  1. Ah meu deus, que coisinha mais linda esse bloguinho!!! (Também, com o layout do PA e esse cabeçalho maravilhoso não teria como ser diferente).

    Gostar do Adam Sandler é meu guilty pleasure ~hehe. Realmente, os filmes todos tem a mesma fórmula, mas a verdade é que a gente gosta dessa fórmula. Eu acho isso até bom, pois geralmente quando a gente vê aquele filme maravilhoso e espetacular, fica muito chato pesquisar por algo parecido e não achar. Nesse caso tem vários do mesmo estilo, é ótimo.

    Livros! Ah, como eu amo. Admito que não ando lendo muito, mas já fui leitora viciada, daquelas doidas mesmo, sabe? Hoje sucumbi um pouco à tecnologia e leio mais em pdf. Claro que não é a mesma coisa, mas é mais baratinho :(

    Bastante gente fala desse livro, se não me engano tem filme até (tem? não sei, talvez seja até série), mas parece ser bem legal, vamos ver.

    "O conhecimento agonizante de que a vida está simplesmente passando e nada de interessante nunca acontece." Sim. Isso é realmente muito triste e uma situação estranha. Ontem, 2 horas da manhã e eu estava me remexendo na cama, e com uma sensação horrível no peito. A sensação de que, quando estiver velhinha e olhar pra trás, não vou ver nada. Bom, pelo menos nada que tenha realmente feito minha história valer a pena. Espero muito mudar esse pensamento pois esse assunto realmente me deixa completamente em pânico. Como tenho uma imaginação muito fértil, em algum dia dessa semana aconteceu algo bizarro. Eu estava no tapete segurando minha cachorrinha na frente do ventilador (já que ela estava com muito calor). Por um momento fechei os olhos e me vi em outro lugar. O tapete peludo para mim era a grama, a minha cachorrinha, uma raposa, e o ventilador era a brisa de uma tarde. Foi incrível, estava em um lugar mágico, mas quando abri os olhos de novo, só tinha a sala de casa e responsabilidades para cumprir. Aquilo me deixou bem tristinha de saber que o mundo tem tantas coisas incríveis e lá estava eu, não aproveitando nenhuma delas. Enfim, vamos voltar pro post porque senão eu não paro de falar nunca! ~sfnjsdkfnskj.

    Nossa, creio que todo mundo já se sentiu mal com adultos falando o famoso "se acha que está ruim, espere até fazer tal coisa". Na verdade, é mais tenso do que parece o fato disso ser uma frase tão comum. Nós vivemos a vida toda com a ideia de que quanto mais você cresce, pior fica. A vida é literalmente vista como uma fruta que vai apodrecendo, e todos gostam de falar isso como se fosse interessante tirar a esperança das crianças e diminuir seus problemas. "Tá cansado? Queria eu só estudar." Sofrimento virou mais uma competição no meio de tantas que temos na vida diária.

    Ah, que delícia isso de sentir faíscas lendo algo. Essa é a sensação que os escritores de romances e afins geralmente querem passar: aconchego, mas percebo que nesse também tem a reflexão mais saliente. O mundo precisa mais disso, de pessoas inspiradas e pensantes.

    Sobre a frase "é melhor queimar do que desvanecer lentamente", se não me engano está em uma música que gosto muito também.

    Enfim, meu amor, desculpa o comentário enorme que acabei de fazer, meu deus do céu... não sei nem se o que escrevi faz algum sentido, pois acabei divagando bastante nas ideias jfsfnskdfnj.

    Fica bem, meu amor!
    Um beijão,
    ~ tea cotton.

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    1. Aaaaaah muito obrigada, Triz!

      Sim, acho que é sempre bom esses filmes levinhos e divertidos. Você meio que sabe o que vai acontecer, ou que pelo menos vai ter um final feliz, mas eles te fazem rir e deixam um quentinho no coração. E acho que isso é importante, também. Acho que não necessariamente um filme precisa te deixar em prantos ou numa crise existencial pra ser bom. Tudo depende de qual é a finalidade de cada um, e os filmes do Adam Sandler são sempre ótimos na sua finalidade. Nesses últimos dois ou três meses eu também fiquei meio preguiçosa em relação a ler, porque sempre fui dessas loucas igual a você sjkdhfs Eu queria ler mais em pdf, também, por causa do preço e tal. Agora que eu tô com um celular novo, dá, mas eu sempre esqueço de baixar kk

      Eu achei que fosse ser um filme, também. Mas é uma série. A minha amiga assistiu o primeiro episódio e disse que é BEM fiel ao livro, até agora. Tanto a ambientação quanto as roupas dos personagens e as referências. Mas ela disse que a atriz não pegou muito a essência da Alaska. (coisa que aliás não teria acontecido com a kaya scodelario, que era o dream cast de absolutamente todos os leitores de qéva, mas enfim)

      Eu sei exatamente essa sensação. Acho que eu passei a maior parte da minha adolescência querendo ser como os outros adolescentes. Não dizendo que eu sou tipo NOSSA TÃO DIFERENTONA, fICO em cASA COM MEUS LIVROS AO INVÉS DE SAIR, sou tão diferente das outras garotas etc etc. Mas eu queria ter vontade de sair, encontrar amigos, conhecer gente, dançar. Deus do céu, como eu queria ir em festas e dançar. Eu queria ter a vida que sempre vi os adolescentes na tv tendo, sabe? Assistindo filmes, fazendo festa do pijama, indo em festas. Essas coisas. Mas eu não tinha essa vontade e pensar em estar realmente nesses lugares me dava quase que claustrofobia. Mas nesses últimos anos eu melhorei muito e finalmente consegui ter a vida que eu queria, mesmo que quase no fim da adolescência. E isso tudo é tão iridescente quanto parece. Eu estou dizendo isso porque eu achei que nunca experimentaria essas sensações, que eu seria privada disso pra sempre. Mas eu não fui. Então você também não vai ser, sabe. Vão acontecer momentos incríveis, momentos tão incríveis em que você vai olhar em volta a todo momento querendo gravar cada coisinha para o caso de nunca mais se sentir dessa forma. Mas não precisa, porque vai se sentir de novo. E de novo e de novo. E esses momentos vão valer à pena todas as noites vazias olhando para o teto e se questionando o que tinha de mais na vida e por quê as pessoas falavam dela como se fosse incrível, quando na verdade era um tédio atrás do outro. Eu juro. Por mais que seja difícil acreditar agora.

      Essa sensação de que o tempo está passando e não terei nada para me lembrar ainda me assombra, às vezes. Só que não é um "nada pra lembrar" e sim um "não o suficiente". E isso ao mesmo tempo que me desespera me conforta, porque significa que eu estou aqui e quero ver mais coisas. Eu não estou mais no estado apático em que estava e isso já significa muito. Fora que eu já tenho várias coisas incríveis pra me lembrar. Coisas extraordinárias condensadas em um período de mais ou menos três anos, tantas que parece que aconteceram há mais tempo do que realmente aconteceram. Elas ficarão lá pra sempre, mas é só o começo. Mais do que as memórias maravilhosas, essa animação e curiosidade, esse arrepio que eu sinto de "o que mais pode acontecer?" É uma das coisas mais maravilhosas que eu já vi na vida.

      Eu também tenho esses momentos!!! Aaaah, me identifiquei. Acredite em mim, tem realmente muita coisa pra se aproveitar. E você vai, sério mesmo. Lembre-se que temos todo o tempo do mundo, por mais que queiram nos convencer do contrário.

      SIM, eles querem que tenhamos amor à vida mas só falam mal dela???? Como lidARRR

      Sim, essas faíscas são m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s e deve ser muito gostoso pra um escritor ver o que ele escreveu teve um efeito em alguém. Deve ser muito gratificante.

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    2. SIM, ESTÁ. O Kurt disse isso em sua carta de despedida, e tirou de uma música do Neil Young, provavelmente é essa (?? se não for, e for outra, me fala que eu quero kk)

      Imagina, adoro quando as pessoas desembestam a falar. Mesmo. Fez sentido sim haha
      Fica bem você, também.
      UM beijo e um cheiro,
      s.

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